terça-feira, 21 de junho de 2011

Requiescat in pace

Casamento
Segundo o Aurélio: Ato solene de união entre duas pessoas de sexos diferentes, capazes e habilitadas, com legitimação religiosa e/ou civil.
União estável
Segundo a Wikipédia é o instituto jurídico que estabelece legalmente a convivência entre duas pessoas sem que para tanto seja necessária a celebração do casamento civil.
Segundo o dito popular: Juntado com fé, casado é.

Casamento ou união estável, nomenclaturas civis e religiosas, que tem significados semelhantes no que diz respeito ao que representam: a união de duas pessoas para a vida. Seja qual for a definição, é há muitas abordando diferentes aspectos, em suma o casamento é o compromisso que duas pessoas fazem para enfrentarem, juntos, a vida. Tanto é assim que no famoso juramento do casamento católico um promete ao outro honrar e respeitar, na saúde e na doença, na riqueza e na pobreza, e outras representações dialéticas do que enfrentamos no dia-a-dia naquilo a que chamamos vida.

Esta união reflete as mesmas necessidades das uniões de nossos companheiros do reino animal. Acontece para que a espécie se perpetue. Um provém e o outro mantém. Nos humanos outros aspectos entram em jogo: amor, sexo, conveniências, etc. Mas no fundo somos como os demais animais: queremos ser protegidos, alimentados, instruídos para viver para depois recomeçar o ciclo. Não quero determinar o gênero a que estas tarefas estão designadas, porque pra mim o verdadeiro feminismo é o que se constrói no cotidiano, tratando e sendo tratada igualmente, seja homem ou mulher. Falarei então de papéis.

Se me lembro bem das minhas aulas de sociologia da faculdade, o ser humano é um ser social, o que pressupõe viver junto a outros na construção de uma experiência coletiva. Também é um ser que desenvolve papéis nessa sociedade. Todos nós desenvolvemos diferentes papéis na vida, somos diferentes em cada ambiente e situação, mesmo sendo uma só pessoa. Eu não dou só mulher, sou também filha, irmã, prima, tia, amiga, colega, profissional, aprendiz, além de esposa. E em cada um desses papéis tenho minhas falhas e meus acertos. Tenho o que aprender e o que ensinar. Tenho opinião, busco argumentos, mas também procuro compreender e escutar a opinião e os argumentos de todos com quem convivo. Sei de minhas falhas e tento cotidianamente minimizá-las. Sei de minhas qualidades e tento aprimorá-las também dia-a-dia. Todas as relações a que estamos expostos na vida baseiam-se em contratos firmados, juridicamente ou não, entre eu e estes sujeitos com os quais convivo.

No casamento há além de marido e esposa, somos também homem e mulher, pai e mãe, provedor e mantenedor. Por provedor entendo ser aquele que provém financeiramente à família, além de prover-lhe também de proteção e valores. Mantenedor, no meu entender, é aquele que mantém a família aquecida, alimentada, instruída e unida, é aquele que mantém no lar a unidade daqueles membros conciliando os diversos papéis. O provedor paga as contas e a comida. O mantenedor mantém a casa, os filhos e a dispensa em ordem. Estes papéis podem ser divididos entre o homem e a mulher, um pode ser o provedor e o outro o mantenedor, ou ambos podem ser as duas coisas.

Onde as coisas se complicam? Quando, apesar do tal contrato, falado, escrito, combinado, não é respeitado por uma das partes.
     “Honrar e respeitar” não é a mesma coisa que não ter casos extraconjugais. A lealdade e a fidelidade são conceitos que no casamento vão muito além do sexo ou do envolvimento emocional. Quando um agride verbalmente ou fisicamente o outro, está desonrando-o, desrespeitando-o. Quando não ouve o que o outro diz, ou não cumpre uma promessa ou compromisso, não há honra ou respeito pelo outro.
      “Na riqueza e na pobreza” não se refere apenas a dinheiro, mas também a valores intangíveis. Subentende que ambos estarão juntos na busca por uma vida mais confortável, em que os filhos gerados por essa união ou criados por meio dela terão melhores oportunidades.

Alguns podem achar que tenho um pensamento retrógrado, tradicional, quase preconceituoso, machista. Outros poderão dizer que soa hipócrita, em função da vida que levo. O importante é o motivo de porque disse tudo isso acerca do que eu entendo como casamento. Acredito ser essa uma instituição da nossa sociedade que está em franca decadência porque as pessoas não entendem estes conceitos. Na era do imediato, do individual, do descartável, estas uniões não levam em consideração estes valores. Apesar de crescer vendo casamentos falidos e separações que refletiam essa falência, passei a ter grande admiração por esta demonstração de preocupação com a perpetuação da espécie. Acredito que casamento é uma coisa séria, que deve ser pensada para durar toda a vida. Mas que não deve ser uma sentença perpétua de infelicidade. Parece contraditório, e talvez seja. Mas apesar de acreditar que deva ser um compromisso sério entre duas pessoas que querem compartilhar a experiência da vida, sei que em algum momento estes dois seres podem perceber que já viveram juntos o que deveriam e que a vida que deveriam compartilhar chegou ao fim, ainda que a vida individual de cada um ainda não esteja nem perto do derradeiro momento.

Dito isto, manifesto aqui minha tristeza de ver que o nosso “contrato”, a nossa “união”, “a vida que partilhamos” está próxima do fim. E para que fiquem claras as “cláusulas” deste contrato que foram quebradas, enumero o que fez você me perder:
- Falta de compromisso (comigo, com a casa, com a manutenção do nosso amor...);
- Falta de respeito (com o que eu digo, o que eu penso, o que eu peço, ao que eu preciso...);
- Falta de companheirismo (na saúde e na doença, na riqueza e na pobreza...);
- Falta de apoio (pra crescermos juntos intelectualmente, financeiramente, como família...);

Eu poderia listar um a um os compromissos não respeitados, as promessas não cumpridas, os momentos de desrespeito ao que eu pedi, precisei, falei... Mas Se você não deu atenção nos últimos dez anos, não será agora que o fará.

Quando eu era mais nova pedia a Deus por alguém que me amasse e que eu faria tudo para esse amor triunfar. O impressionante é que não sinto que esteja quebrando esta promessa. Porque quem não me respeita, não tem compromisso comigo, não é meu companheiro e não me apóia, em resumo, não me ama. Continuo esperando o tal ser que me amará para que eu faça este amor triunfar.

Aqui jaz meu amor por você.

Que descanse em paz.